sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Uma bacalhoada sem fumo, por favor!

Nos últimos dias, a nova lei do tabaco tem sido atacada por inúmeros comentadores iluminados da nossa praça. Só no dia de ontem, ouvi quem lhe chamasse "ditatorial" e "fundamentalista". Claro que, não acidentalmente, os autores das injúrias são todos fumadores (Ó Miguel! Eu tenho tanto respeito por ti... não havia necessidade!). Em contraste, ainda não ouvi nenhum não fumador reclamar com saudades dos tempos em que podia comer com aquele cheirinho agradável a cigarro, ou um funcionário queixar-se de não conseguir concentrar-se com o ar puro que afecta agora a repartição pública onde trabalha.

Este é um caso típico de uma minoria muito empenhada, com preferências intensas (tal como o cheiro, aliás) e uma imensa maioria, uns 75% da população portuguesa, pouco mobilizada para defender o que é de elementar justiça: o direito ao ar puro. Se os partidários fanáticos dos referendos sugerissem um para a nova lei, a rejeição seria imediata devido a uma elevadíssima taxa de abstenção. O tempo de antena concedido aos fumadores é tanto que a vitória estaria certamente assegurada.

Desde que a nova lei entrou em vigor, já dei comigo num espaço comercial do grande Porto a pensar como é agradável comer na praça da alimentação sem levar com o fumo do cigarro do vizinho do lado. Constatei igualmente como a secretária do Departamento lá da Universidade deixou de atender os utentes com um cigarro aceso na mão. O próprio comboio Intercidades, que de si já não cheira particularmente bem, passou a ser um local mais agradável, sobretudo junto às portas, onde se tendiam a concentrar os fumadores.

É verdade que ainda há problemas com a implementação da lei, mas... helloooou, isto é Portugal! Qual é a lei que não tem problemas de implementação?! Desde quando é que a brigada de trânsito multa todos os condutores que excedem os 120km/h na auto-estrada? Qual foi a última suinicultura multada pelas descargas na Ribeira dos Milagres (Leiria)?

O ar está mais puro e posso dizer que estou pouco preocupado com a minoria tiranizada pela nova lei. Aliás, atrevo-me a sugerir aos que sentem falta do ambiente de fumo nos restaurantes, que experimentem tomar a vossa próxima refeição em frente ao escape de um automóvel ligado. Ficariam com uma sensação semelhante à que eu experimento quando fumam ao meu lado enquanto eu degusto um belo bife à Portuguesa.

8 comentários:

Pedro disse...

a foto está engraçada, mas sou mais moderado nesta causa.

Entretanto, ouvi dizer que a LIHCA (Liga dos Inimigos do Hálito a Cebola e Alho) já se está a mexer....

Helena Martins disse...

Eu concordo... Agora é muito mais agradável ir aos cafés, por exemplo... Noto uma diferença imensa! E acho que estes protestos são só fruto de uma inevitável resistência à mudança, porque não há mudança que seja digna desse nome sem alguma resistência! eheheh Beijinhos!

Só- Poesias e outros itens disse...

Concordo em partes, sou fumante e sei que a fumaça incomoda, e prefiro fumar ao ar livre, sou um caso raro que não gosta de fumar em lugares públicos. Mas confesso, um cigarro, ou melhor, onde há fumantes, a conversa fica mais divertida.

bjs.


JU gioli

vague disse...

Tenho a percepção q muitos fumadores não se juntam ao rol dos "fumadores que se sentem vitimizados e perseguidos" por esta "lei fascizante" e que a aceitam bem. Será assim ou será só para a entrevista do telejornal?
:)


A mim sabe-me (literalmente) bem esta proibição em locais fechados.

Ir a algum lado à noite e estar em ambientes saturados de fumo era péssimo, bem como almoçar e sentir as baforadas de fumo no ar. Mas tal como eu disse chez moi, isto é tb uma questáo de civismo.

Mainada:)

klaudia disse...

e ir ao Piolho e sair ainda com o cabelo a cheirar a shampoo?
e nos locais de diversão nocturna poder, efectivimente, apreciar o cheiro a água de colónia do jeitoso que passou?

é indizível a sensação que o ar puro nos locais tem trazido

mas acho que se agora, depois de se ter experimentado o que é almoçar/jantar/lanchar/dançar sem fumo, haveria uma rebelião nacional

Mike disse...

Nos lugares que frequento foi o maravilhoso e admirável mundo novo...por pouco tempo. A impunidade e leviandade com que se duraram zonas e espaços de não fumadores para fumadores é assustadora, daqui a pouco regressamos ao passado bem antes da publicação da 37/2006.Mas afinal é a terra das famosas mães

Fernando disse...

Miguel:
Mas as mães de Bragança podem sempre organizar-se para exercer o direito aos espaços sem fumo... É uma causa mais nobre ;-)

Todos os outros:
Depois de 36 anos a levar com o fumo dos outros, espero ter direito a outros 36 sem fumo. Mas após 15 anos a sair à noite, suspeito que a minha esperança de vida caiu a pique e já não chego lá...

Gala Dmitrievna disse...

o teu post deu-me fome lol
hoje de manhã ouvi na rádio alguém dizer que agora nas discotecas cheira a sexo e a suor, que o fumo disfarçava esses odores ...heheheh
O miguel é um exagerado nestas coisas, gosto muito dele mas às x's (muitas vezes) o homem reage a quente.
Fundamentalmente há que haver respeito pelos que sim e pelos que não, mas que se come e se está muito melhor isso sim .

beijinhos